Saí tarde do trabalho. Desci à plataforma, para a estação.
Estava chateado, como sempre, por vê-las e saber que não existe verdade dentro delas. Apenas mentiras. No máximo a quimera de um amor romântico, desfeito pelas necessidades sociais de se equiparar às amigas. Observei uma mulher de longe: Blusa vermelha, calças azuis. Nada além disso, cabelos loiros. Normal. Apenas para dispersar um pouco.
<Vila Olímpia>
Entrei,
Uma mulher me outro estranhamente, mais de 2 segundos. Estranho.
Mas tudo bem, estava nas últimas páginas do Neuromancer. Deixa eu acabar pra entender direito essa história {Berrini}
Constructos, simstim. É, essa história me parece bem real. A carcaça de ferro e acrílico que me leva de volta pra casa, junto com tanta gente.
Aparentemente tristes. Às 19:48 não é possível distinguir o que é cansaço e o que é tristeza para quem volta pra casa. Núcleos de atividade humana que concentram grande parte da mão de obra, trabalho intelectual ou simplesmente mais um estudante que tem uma idéia genial e pode criar uma empresa em minutos. Grandes centros comerciais são assim. À minha esquerda nem liguei mais, não preenchia o meu perfil. Percorri o ambiente em busca da minha manola estereotipada, mas desta vez a minha estatística não funcionou: não havia nenhuma representante nipônica na composição. Back to the book.
Então, notei uma Sophie Ellis Bextor uma porta à frente. De repente, me apaixonei instantaneamente. Seus olhos eram lindos. Os cabelos, cortados maneiramente como que não estivesse arrumado, na verdade foi planejamento milimetricamente justamente à isso.
Blusinha com bolinhas coloridas, e seu tecido nude se misturava com o tom de pele mashironna. Lábios vermelhos cordebatom (Mais fraco que o vermelho da calça da Rizzi hoje no almoço). Granja Julieta
Senti por uns segundos o amor. Aquele amor que destrói nossas linhas de raciocínio e nos fazem perder a noção de uma vida chata e acomodada pela percepção dos padrões de comportamento do seu par. Por alguns milissegundos ela era a pessoa que eu precisava ao meu lado para viver a vida inteira. Calça bordeau, jaqueta de couro e aproximadamente 1,75mt num blassé incrível. Saí dos olhos puxados e cabelos pretos, e entrei de cabeça para fora da bolha.
Santo Amaro:
Achei que ela iria sair, afinal pelo senso comum 60% da população sai nesta hora, e torna a seguir o fluxo por outros modais. Não, ela permaneceu. Meu amor aumentou cada vez mais. Passei a ver os detalhes.
Isto realmente é um problema quando eu passo a ver detalhes, é sinal que estou interessado.
Socorro, a passagem é rápida, e eu acabei o Neuromancer. Ela parecia que estava lá só para adornar o livro. Trinnity, ou Molly? Parecia uma mulher em um filtro anos 60. Amarelada e com tons vermelho e nude. Ainda não devia conhecer dos males das pessoas ou das tristezas que elas nos causam. Parecia ter o olhar tenro, perdido pela janela da composição olhando algo muito além da vista do Rio. {Jurubatuba} Em tempo: Jurubatuba = Terra das palmeiras. Nada que agregue na narrativa.
Prefiro mulheres de olhar perdido. Estas não tem as convicções falhas das pessoas que acham que sabem tudo, e param ao encontrar o tudo, que é um limite antes do impossível. Mulheres de olhares perdidos têm esperanças além dos olhos, vêem e vem outra direção para a vida. Por isso me apaixonei rapidamente. Você sabe que ainda existe esperança que possa ter algo diferente, que mude sua vida ou mude o que você quer. Olhares perdidos são os do reencontro em meio à descrença dos que te cercam. Deixei offline o Android para ver um pouco mais. (Autódromo_ Ela poderia sair agora, mas se não saiu em santo amaro, ou vai para o primavera ou para o grajaú. Sei lá, eu não ligo para essas coisas. Ultimamente não quero prestar (atenção).
Um Dejavú ao lado dela: A mulher de blusa vermelha. Estava sentada (Pessoas sentadas estão cansadas), e eu tirei os olhos dela por alguns momentos para ver esta outra. Mas a mesma estava de Sneaker, moda passageira. Bocejava, não ligava muito para os outros, e estava no assento preferencial. Voltei à manola.
Primavera Interlagos, aqui acabam as coisas. Eu vou, ela fica e vai para a última. Não, ela desceu. Durante estes momentos se ela olhou duas vezes pra mim foi muito.
Então, dei shutdown nos constructos do amor. Emulei o máximo que pude, cheguei a ter uma paixão de 20 minutos, mas a vida é assim. Ela nunca mais vai me ver, e eu: idem.
As portas se abriram, eu na frente, e ela uma porta atrás. Segui meu caminho. Possivelmente ela não me notou, e se notou, deu de ombros. Voltei minha mente à minha segurança de vida e desci as escadas.
Passada a catraca, as vidas voltam ao seu rumo, mesmo que nunca tenham saído dele.
Me apaixonei por 20 minutos.